Sessão de estudo noturna

Mohamed caminha junto à estrada. Dirige-se para o aeroporto de Conakry, está escuro em todo o seu redor, apenas as momentâneas iluminações dos automóveis trazem luz para esta noite de Lua nova. Na distância encontra-se a enorme bolha de luz que é o aeroporto, o destino final de Mohamed. Este jovem de 17 anos traz sobre o braço um monte de livros e o seu caderno. Com a outra mão come um pedaço de pão que trouxe de casa.

Mohamed não ouve os carros nem os aviões que passam tão baixo, somente se ouve a si num tribunal, a defender um inocente homem, ou numa sala de reuniões onde debate as ideias que farão a Guiné avançar e levantar-se do atual torpor económico-social. Este sonhar é interrompido por um carro que passou demasiado perto dele e logo de seguida veio outro. O segundo, claramente, teve intuito maldoso pois o pendura vinha meio de fora do carro e bateu nos livros de Mohamed que se espalharam pela berma da estrada. Um dos livros ficou um pouco rasgado, mas continuou legível. Mohamed só sofreu o susto e a frustração de ter uma difícil vida e esta ser piorada por coisas destas, insignificantes atos de malícia!

Pegou em seus livros e quando ia pegar no último uma outra mão tratou de o apanhar do chão. Mohamed elevou o seu olhar e tinha à sua frente Zaynab, uma amiga da escola e vizinha: “Que se passou Mohamed?”

Mohamed, antes de responder, abriu num sorriso de cara inteira: “Atiraram com os meus livros para o chão! Os filhos da p… Esquece! Pensava que não vinhas hoje?”

Zaynab devolve um sorriso, meia envergonhada. “Hoje o jantar atrasou-se… Achas que o teste vai ser difícil?”

Mohamed mantém o sorriso, mas mais modesto: “Acho que sim, o professor disse que tínhamos que nos esforçar muito para dominar esta matéria… Já estudei bastante mas tenho alguma dificuldade nas probabilidades…”

“Eu ajudo-te, essa parte para mim foi fácil!”

“Obrigado!” Mohamed toca no braço dela enquanto fala seu agradecer. Ambos param no escuro da noite. Um carro passa (deve estar atrasado para o seu voo pois passou em claro excesso de velocidade). A roupa de Zaynab voa com o mover do ar e Mohamed pensa: Parece um sonho!

Zaynab inclina-se na direção de Mohamed e dão um beijo na boca. Permanecem uns segundos a saborear o beijo e o que este significa, ou poderá significar... Um outro carro passa, nenhum deles o viu pois usufruem do beijar de olhos fechados, apenas uma luz passou por eles enquanto eles vivem um iluminar mental como até então nenhum destes jovens tinha conhecido!

Zaynab afasta-se e olham-se nos olhos. Mohamed dá-lhe a mão e caminham em silêncio. A bolha de luz que o aeroporto projeta em toda a sua volta envolve-os; avançam pelo parque de estacionamento até encontrarem um grupo de jovens sentados nuns pequenos muros sob uns candeeiros elétricos. Está cá grande parte da turma deles, a estudar matemática sob a luz artificial. As cabeças levantam-se e imediatamente começam a cochichar entre eles as mãos dadas de Mohamed e Zaynab… Os dois sentam-se muito próximos, com as pernas a tocarem-se e abrem um livro cada. Zaynab diz: “Queres que te ajude com as probabilidades?”

“Sim, agradecia muito…”

 

Por volta da meia-noite o grupo de jovens começou a diminuir e Zaynab e Mohamed decidiram voltar para as suas casas para descansarem antes do teste.

Falaram de seus sonhos e do que queriam para a Guiné no futuro, sempre junto à escura estrada. Mohamed acompanhou-a até casa. Quando estavam perto, longe da vista dos irmãos dela, deram um beijo na boca.

Ambos caminharam entusiasmadíssimos em suas escuras casas e, embora tropeçassem nas coisas, sorriam pois as suas mentes reluziam com a promessa de Amor!

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