Uma aparatosa saída de emergência

"Fogo!"

Alguém no corredor do 8º andar gritava a fatídica palavra. Uma palavra que inspira medo em todas as línguas, principalmente quando é gritada a meio da noite e se tem um filho de 2 anos para cuidar.

Este foi o acordar de Lucy, numa noite nova-iorquina nos meados do século XIX. Lucy correu para a cama do filho e arrancou a criança do sono e da cama. Pegou nele e correu porta fora.

Havia pessoas a chorar enquanto caminhavam na sua direção, outras na direção oposta. Uma senhora idosa, apoiava-se na sua bengala que se esforçava para aguentar o fado.

O corredor estava iluminado por lâmpadas a gás, mas estas pouco iluminavam, pois, uma nuvem de fumo cobria o teto. Lucy pegou num pequeno pano e cobriu a cara de John. “Segura isto sobre a tua cara, Johnny.” O pequeno obedeceu sem hesitar. O medo na face da mãe, os gritos a vibrarem no ar, o calor que irradiava do chão, o forte cheiro a queimado e o fumo - todos estes elementos tornaram claros a John que aquele não era momento para birras, não era momento para chorar.

“Para a janela, toda a gente, as escadas estão a arder.” Gritou o senhor Gilbert, do 8B. Um pequeno grupo de pessoas aglomerou-se junto da janela do corredor. Lucy caminhou em direção ao grupo. Passou pelas escadas e destas vinha uma enorme onda de calor. Não uma onda, mais uma maré de um calor infernal. A curiosidade manteve Lucy a olhar para as escadas por uns segundos. Uma enorme labareda apareceu e iniciou o consumir dos degraus que davam acesso ao 8º andar.

Lucy viu o fogo e imediatamente correu para junto de Gilbert. Perguntou-lhe o que se passava. Ele constatou o óbvio e depois prosseguiu por explicar que como as escadas estavam em chamas, que tinham que ser resgatados pela janela.

“Pela janela!? Mas…” Balbuciou Lucy.

“Sra. Jones, não se preocupe, este prédio tem ao nosso dispor um serviço de saída de emergência." Tentou acalmar Gilbert.

Lucy, embora ainda na ignorância que sistema era esse, acalmou-se. Olhou para o filho e falou palavras de conforto e amor para ele, baixinho.

O grupo de pessoas que se encontrava entre Lucy e a janela foi diminuindo e quando apenas restava ela, o filho e Gilbert, este disse-lhe. “É a sua vez, Sra. Jones.”

Lucy, ainda de John em braços, olhou para a rua e viu dois homens a segurarem uma corda grossa. Eles puxavam em uníssono a corda. Um instante depois, Lucy reparou que subia um enorme cesto. O enorme cesto parou junto da janela.

“Ponha a criança no cesto!” Gritou um dos homens da corda.

“Como!?” Disse Lucy, mais para si que para o homem.

“Ponha o John no cesto e eles descem-no devagar.” Disse Gilbert.

“Mas, e se ele…”

“Se forem os dois pode ser demasiado peso para a corda. É mais seguro ele ir sozinho. Eu ajudo.” Gilbert achegou-se à janela e segurou o enorme cesto. Um cesto com um tamanho suficiente para acomodar humanos adultos.

Lucy sentou John no cesto e disse-lhe ao ouvido que estava tudo bem, que ele tinha que se segurar e ficar parado. John olhou para baixo e começou a chorar. Lucy dava beijos na testa do filho e agarrava-o através da janela.

“Temos que ir Lucy!” Disse Gilbert determinado. “O fogo já está no corredor.”

Ela olhou para trás e viu que o corredor já se encontrava repleto de chamas. Largou John e rezou.

O cesto foi descido rapidamente, mas seguramente. Os dois homens tinham mãos firmes. Mal o cesto tocou no chão, um terceiro homem pegou na criança. A dupla reiniciou imediatamente a subida do cesto. Lucy desceu, mais preocupada com John do que de cair de um mísero cesto de uma altura de oito andares. Lucy chegou incólume ao chão e abraçou John. Um minuto depois, Gilbert aterrou nas ruas de Nova-Iorque, são e salvo.

*

Os habitantes do prédio observavam do outro lado da rua o prédio a ser consumido pelas línguas de lume.

Passadas duas horas, os bombeiros tinham extinguido o fogo. Lucy estava sentada na berma do passeio e brincava com John. Um par de bombeiros junto deles falava.

“É sempre a mesma merda! O prédio está de pé, mas tudo lá dentro está destruído. Temos pelo menos vinte mortos!”

“Sem dúvida. Estes ricos fazem os prédios de forma a sobreviveram a incêndios, mas as pessoas lá dentro que se fodam. Nada de saídas de emergência como deve ser, nada de portas de segurança…"

“Bem-haja os cestos, senão ainda teriam morrido mais pessoas."

“Sem dúvida!" Disse Lucy para John.

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