Os pombos apanharam o autocarro para a guerra
Albert descansava encostado ao muro da trincheira. A metralhadora germânica cantava a sua canção fatal. Balas aterraram mesmo em frente de Albert levantando pequenas nuvens de pó.
James chamou por Albert. James estava a uns metros abaixo e usava um periscópio para ver a linha dos inimigos. A colina de Ypres estava adiante mas não era visível. Albert encostou os olhos ao periscópio e viu uma parede amarela. Mas não era uma parede, era uma nuvem, um nevoeiro denso e impenetrável. O vento estava contra eles e a densa massa gasosa movia-se na direção deles.
Os disparos da linha inimiga continuavam.
O amarelo nevoeiro, não mais que 10 metros de altura, estava a meros metros deles. Um cheiro feriu o nariz de Albert, um enjoativo cheiro a alho e rabanete. Os olhos de Albert começaram a chorar.
Albert ouviu gritos vindos da sua esquerda. Apertou a sua espingarda e apontou-a na direção dos gritos. A trincheira seguia uma curvilínea rota e aquele lado já estava envolvido pelo nevoeiro. Os gritos aumentavam de volume e de número. Que terror viviam os seus camaradas, os seus irmãos de armas.
Todo o mundo à volta de Albert tinha um tom amarelado. Este foi envolvido pelo gás mostarda e de imediato os olhos ficaram imensamente irritados. Respirar custava e uma dor agonizava dentro do seu peito.
“Que se passa? Chagh! Chagh!” Tossiu Albert.
“Chagh! Ah! Não sei! O que é isto? Aaah!”
“Temos que comunicar isto ao capitão, mas as linhas estão cortadas."
“O autocarro!” Disse James.
James subiu a trincheira em direção ao autocarro e uma bala atingiu-o nas costas. James caiu e uma poça de sangue verteu à sua volta, escorrendo para a lama da trincheira onde Albert tentava conter as lágrimas.
Albert esperou que o atirador mudasse a direção da sua metralhadora e subiu a trincheira em dois saltos. Agachou-se junto de James e tentou sentir o seu pulso, mas este estava morto. A cada inspiração, a dor aumentava. Chorava dos olhos e as lágrimas deturpavam tudo. “Temos que avisar o Capitão!” Disse Albert, para si mesmo.
Levantou-se e correu na direção oposta à dos alemães. “Onde está o filho da puta do autocarro!”
Albert corria dentro do nevoeiro. O universo amarelo em que ele corria agonizava todo o seu ser. A pele ardia, os olhos ardiam, os pulmões contraiam-se de dor. Viver doía!
Um enorme vulto surgiu à sua frente. “Finalmente.”
Albert aproximou-se do autocarro de dois andares pintado de padrão camuflado verde. Mas ao invés de bancos para passageiros, o autocarro tinha um pombal. Construído sobre o chassi em tábuas de madeira, com portas feitas de rede. Dentro estavam umas dezenas de pombos correio, em pânico. Penas esvoaçavam naquela terrível tarde, entre o fumo que queimava os ingleses.
“Harry, onde estás?”
Harry abriu a porta do autocarro. “Entra!”
Albert, sem hesitar, entrou. Nem que lá dentro estivesse o Kaiser.
“Que se passa lá fora?”
“O nevoeiro queima! Mal consigo ver. Temos que avisar o Capitão!” Explicou Albert.
“Muito bem.” Harry escreveu uma mensagem num pedaço de papel pequeno. Enrolou-o num tubo e entregou-o a Albert. “Eu não vou lá para fora.”
“Seu filho da….” Albert pegou no rolinho de papel e abriu a porta.
"Qualquer um dos da jaula de cima.” Gritou Harry antes de Albert fechar a porta.
Albert pôs um pé na roda de trás e subiu. Apanhou um dos pombos e prendeu a mensagem na sua pata. Atirou a ave para o ar que imediatamente voou na direção certa.
O pombo voou através do gás amarelo. Bater as asas era uma tortura, respirar uma agonia. Voou e voou. Felizmente a nuvem ficou para trás passados umas centenas de metros.
A ave voou até outro autocarro, muito semelhante ao anterior, mas com um símbolo diferente nas suas paredes.
“Que nos trazes aqui? Eh, que pivete!” Disse Robert. Abriu a mensagem e leu. A meio da mensagem, parou de ler e correu para o capitão.
“Capitão, os alemães libertaram uma espécie de gás que está a queimar os nossos homens. A linha da frente está a ser dizimada. Precisam de ajuda!”
“Mande-os retirar!” Ordenou o Capitão, sem saber patavina do que se passava.