Booglândia

“É oficial, pela primeira vez na história da humanidade, uma nação soberana é adquirida por uma empresa privada. O nosso país, que até hoje se chamava Portugal, vai a partir do dia 1 de janeiro chamar-se Booglândia" Anunciou o locutor das notícias.

Pessoas nas ruas festejavam, pois, a empresa iria salvar o país da bancarrota, da ruína. Outros choravam, pois, o país que eles até então conheciam morrera. A seu tempo todos chorariam.

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“Neste mês de Boogle, um mês depois do início da primavera, o calor finalmente faz-se sentir aqui por Lisboa. Temos agora o nosso correspondente na Ponte Boogle onde um homem de seus quarenta anos estendeu uma enorme faixa na ponte. As imagens que vêm foram tratadas de forma a não ser possível ler a mensagem que o homem ostenta sobre a ponte.”

O homem na ponte ajustou o enorme tecido de forma a ser fácil ler a mensagem. Toda a cidade conseguia ler o que estava escrito. Todos percebiam a mensagem e as suas repercussões.

“O nome desta ponte é Ponte 25 de Abril!”

Um carro blindado parou junto do homem que parara o trânsito. Um grupo de 5 homens armados saiu pela porta traseira do veículo. Cada um tinha a cara tapada e no capacete o logo da Boogle, com um enorme P. Os cinco rodearam o homem que gritava com toda a sua veemência.

“Portugal! Portugal!” O homem tinha uma t-shirt com um Galo de Barcelos e levantava sobre a sua cabeça uma bandeira vermelha e verde, quinada e castelada.

Um dos agentes pegou num dos braços do homem e este retraiu e elevou a bandeira de novo. O agente agarrou o ombro do lingrinhas homem e atirou-o ao chão. O agente colocou um joelho sobre as costas do homem e algemou-o.

Os repórteres da Boogle exclamavam sensacionalistas palavras enquanto escondiam as lágrimas.

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“O homem que no mês passado colocou uma mensagem proibida na Ponte Boogle foi condenado à morte esta tarde. O juiz condenou Alberto Ribeiro a duas penas de morte devido ao facto deste ter proferido palavras ilegais e ter hasteado a bandeira do país que não existiu.”

“Hoje é o dia da execução de Alberto Ribeiro, este será colocado num estado de suspensão e incinerado usando o calor libertado pelos Servidores dos Computadores do Estado. Como sempre para os inimigos do Estado, o seu obituário será colocado na página Inicial da Boogle, de obrigatória visualização por parte de todos os cidadãos.

Sofia desbloqueou o seu telemóvel e a Página Inicial da Boogle assaltou a sua vista. A câmara registou o padrão da sua íris e colocou à sua disponibilidade o obituário de Alberto:

Alberto Ribeiro, um conhecido pedófilo, foi apreendido pela Polícia da Booglândia quando este espalhava mentiras aos Lisboetas na Ponte Boogle. Alberto resistiu à polícia e feriu gravemente um deles. Foi preso e condenado à morte no dia 10 de Junho, Dia da Boogle.

23:45:33 Sede do Estado Boogle

No fim do dia, na sede da Boogle uma notificação dizia: Penetração total da notícia da execução do revolucionário Alberto Ribeiro.