O Mapa de Imola

Cesare Borgia chegou com a sua corte a Imola, a fortificada vila do interior italiano. Na sua companhia vinha o colorido Leonardo, nascido em Vinci. Borgia mandou um dos seus assistentes buscar Leonardo.

Meia hora passou e o engenheiro, pintor, escultor, naturalista, bem… o génio, chegou junto do implacável Borgia.

“Leonardo! Quero que faças um mapa de Imola. Quero conhecer as defesas do forte onde estamos e quero um mapa detalhado da vila.” Ordenou Borgia.

“Sim Comandante Borgia. Vou fazer isso de imediato.”

Leonardo foi para o seu apartamento no forte, privilégio apenas reservado às pessoas mais importantes. Salai pintava quando Leonardo entrou. Salai parou, pois, entendeu que algo se passara. Levantou-se e foi para junto de Leonardo.

Pousou a mão no ombro de Leonardo e disse baixinho ao seu ouvido. “Leo? Está tudo bem?”

“Eh…. Bem, Valentino ordenou que eu desenhasse um mapa de Imola…”

“E há algum problema?”

“Bem, não exatamente. Mas queria terminar o quadro e agora vou ter que fazer isto.” Disse Leonardo, frustrado.

“Mas não terminaste há uns meses aquele instrumento para medir distâncias?"

“Tens razão, meu querido Salai.” Leonardo colocou a sua mão no ombro de Salai e deu um carinhoso beijo na sua testa. Afagou os seus caracóis e saiu do quarto de Salai.

*

Nichola tinha em mãos um caricato carrinho de mão, este tinha uma roda vertical e outra horizontal, um recipiente com pequenas pedras e outro recipiente por baixo vazio. Junto dele, Leonardo ajustava a sua bússola e apontava algo no papel que o seu segundo assistente segurava.

“Bem, Nichola, sempre pelo meio das ruas, sempre a meu lado. Henricus, cada vez que ouvires o som duma pedra a cair, apontas no teu caderno. Sim? Isso significa que caminhamos 5 metros.”

O trio caminhou pelas ruas de Imola, Leonardo focando-se nos ângulos das ruas, cada uma das mudanças de direção registadas pelo génio. A seu lado, Nichola caminhava com o odómetro demarcando as distâncias da vila.

Duas semanas depois estavam registradas todas as ruas, ruelas, becos, passagens, pontes, e até o caminho que rodeava a muralha da fortificada vila italiana.

Leonardo passou uns dias a melhorar o mapa. No quinto dia fechado em seu quarto, Leonardo saiu. Caminhou pelas ruas de Imola de mapa estendido em suas mãos. Os habitantes passavam por ele e olhavam de esguelha, não só porque achavam estranho o que fazia, mas porque sabiam quem ele era.

Confirmada a precisão do mapa, Leonardo fez uma cópia para o seu patrono, uma sem os vincos das incontáveis vezes que o mapa foi dobrado e desdobrado, e sem a espelhada escrita de Leonardo.

*

Leonardo entrou na enorme sala onde Borgia e os seus capitães debatiam. Falavam sobre a sua próxima expedição bélica, mas quando Leonardo se aproximou todos se calaram. Borgia gostava de usar o efeito surpresa sobre os seus inimigos, e quanto menos pessoas soubessem de seus planos melhor!

“Leonardo!” Cumprimentou Borgia, de braços abertos. “Que me trazes hoje?”

“O seu mapa, senhor!” Leonardo entregou o mapa a Borgia com uma pequena vénia.

Borgia colocou o mapa sobre a mesa onde ele e os outros homens se aglomeravam. Todos os olhos caíram sobre o pedaço de papel. Pequenos toques e sussurros foram trocados pelos militares.

Minutos depois, Borgia virou-se para Leonardo. “Não percebo bem este mapa Leonardo…"

“Bem, senhor…. O que tem em mãos é um mapa em que Imola aparece como que vista de cima, de uma imensa altitude. Como se tratasse de uma águia a pairar sobre a vila.”

“Ah…! Não tem desenhos de nenhuma das casas… Nem do castelo.”

“Não senhor. A ideia é entender perfeitamente as distâncias e conseguir orientar-se perfeitamente dentro da vila. Assim não há casas a tapar a vista de outras zonas da vila, consegue ver tudo de uma só vez.”

“Muito bem. Obrigado Leonardo! Mais uma vez excedeste as minhas expectativas.” Com os olhos, Borgia deu sinal a Leonardo para se retirar. Antes da porta se fechar, Borgia e os seus capitães já discutiam algo diferente.

Meses mais tarde Borgia já vivia outra expedição, outra conquista, outra macabra luta.

Leonardo seguiu a sua vida para Roma, para trabalhar para o irmão do Papa. Mas os mapas nunca seriam os mesmos, nunca mais aparentariam o mesmo depois daquele pequeno desenho de Imola.

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