O novo retrato
O líder do partido e Presidente da Rússia morreu. Em redor de seu morrer já temos os abutres políticos a sobrevoar o seu escritório. No meio destas lutas, muitas vezes nem faladas nem demonstradas, está Oleg, o pintor do retrato oficial do falecido Presidente Rozanov, e Nina, a mestre da logística por trás de todas as embaixadas da Federação Russa.
«Presidente Ivan Fyodorovich Gagarin foi o escolhido pelo partido comunista como o líder que vai levar a Rússia para a nova década e para novos prados verdejantes.»
Nina comunica com o Gabinete do Presidente e fica em espera diversas vezes diversos minutos; de momento encontra-se em Leninegrado e o Gabinete é em Moscovo: “Não me apetecia nada fazer 600 quilómetros por causa disto, mas pelos vistos terá que ser…” Disse ela para o telefone que a aborrecia com a simples e repetitiva música de sinal de espera.
Moscovo, 3 dias depois.
Nina passou pelos seguranças do Presidente após uma entrevista, e antes ainda, uma revista a ela e à sua mala. O segurança que me revistou estava a adorar o seu dia de trabalho, filho da puta! Dirigiu-se para o Presidente Ivan Gagarin, deu-lhe um aperto de mão e apresentou uns parabéns altamente formais. O Presidente agradeceu, sorriu e mandou retirar-se todas as pessoas que não eram Nina.
“Sra. Nina Savvichna, que deseja da minha pessoa? Sei que tem telefonado compulsivamente para o meu gabinete, mas como deve imaginar, visto que estamos a plantar as sementes para uma nova Rússia, temos muito trabalho.”
“Sr. Presidente, o que quero de si é da maior importância, quero a sua face!” O Presidente olhou estranhamente para ela e antes de poder fazer ou dizer alguma coisa ela continuou: “Quero tratar da sua pintura oficial, para a fazermos chegar a todo o mundo russo, por este mundo fora e pela Rússia inteira. Que nenhum russo, desde Ratmanov à África do Sul, desconheça a face do nosso líder!”
“Ah,” um sorriso de compreensão e orgulho abriu-se em Ivan, “nem pensei nisso Sra. Nina…, mas realmente tenho que chegar a todos os nossos camaradas. Como quer fazer isto?”
“Obrigado por compreender a importância da tarefa! Oleg Olegovich veio comigo para Moscovo, ele foi o pintor que pintou o seu antecessor.” Enquanto dizia estas palavras, Nina apontava para um enorme quadro à sua esquerda; debaixo do quadro, as palavras: Presidente Anatoly Rozanov.
“Gosto bastante do quadro, principalmente porque é mais bonito que o verdadeiro, eh eh eh!”
A conversa terminou por ali… Depois deste breve encontro, Nina lidou com o Gabinete do Presidente e amanhã será o dia em que o novo presidente terá o seu retrato pintado.
Luzes, câmaras fotográficas, um placar branco por trás da secretária do Presidente, uma maquilhadora e muitos, muitos homens dos bastidores políticos russos. Do outro lado da sala, uma pequena mesa com chá e uns pastéis, algumas pessoas a comer, tudo num claro estado de esperar por algo… e aqui está – o Presidente Gagarin entra na sala, com mais seguranças e ministros em ares de importância, toda a gente para e olha para ele; um senhor que comia parou a meio duma dentada e deixou cair parte do seu bolo alimentar para o chão.
O Presidente dirige-se diretamente para a sua cadeira e cumprimenta a sala. Já sentado, Nina explica-lhe que género de expressão o povo russo precisa dele, o que as pessoas precisam de ver no seu líder. Ele, um pouco chateado, olha para ela e diz: “Cheguei aqui porque sei o que o meu povo precisa Sra. Nina Savvichna, não necessita de mo explicar! Mais alguma coisa?” Ela pediu perdão e disse que agora bastava ser maquilhado e ajustarem-se as luzes para começar.
Oleg trabalha relativamente devagar, demorou dois dias a terminar o retrato, mas ficou soberbo!
Agora, a fase seguinte ‒ as centenas de réplicas necessárias! O quadro original, que terá como destino final o escritório do Presidente, foi levado para um imenso estúdio, um pouco mal tratado mas espaçoso, o aspeto mais relevante para o que se segue. Três dezenas de pintores em semicírculo preparam o seu material.
Nina, com Oleg e seu secretário, entram na grande sala e colocam no centro o retrato do líder, sentado, com a Catedral de São Basílio no fundo, vista através da janela do escritório (embora a vista real seja o jardim da presidência).
Duas semanas depois, uma mudança de quadros ocorre em centenas de locais por todo o planeta, sem cerimónia alguma, simplesmente um tirar de um quadro e o colocar de outro, mas sem dúvida, um mudar de sentimento para todos os russos que passam pelo novo quadro.