O Pastor: Dia da Tosquia (8)

O Pastor estava no palheiro, envolto em lã, montes de lã, a primavera já morava em todo o seu esplendor na Escócia. Archibald encontrava-se a cortar a lã de todas as suas ovelhas; de um lado as rapadas e do outro as por rapar. Hoje estava toda a gente agitada, as rapadas porque foram manuseadas e as por rapar porque estavam a ver o que as esperava.

Terminou com mais uma das ovelhas, esta era das poucas que tinha lã preta. Colocou a lã num montinho mesmo pequenino junto do enorme monte de lã que se encontrava a seu lado O grande monte de lã branca já superava o Pastor em altura.

Bardolph ainda não tinha sido tosquiado, nestes dias de tosquia, ao contrário de todos os outros dias, ficava no fundo da linha e não a liderar o rebanho. Desde o primeiro ano que Bardolph repudiara a tosquia, tinha sido uma tosquia mesmo agitada e infelizmente devido ao seu incessante mover e à ainda maior incapacidade do Pastor fazer o seu trabalho devidamente, este cortara o jovem carneiro. O corte não foi profundo, apenas um corte superficial de pele, mas foi o suficiente para confirmar todos os medos de Bardolph e desde então o seu tosquiar é o mais difícil.

O Pastor já teve imensas conversas com outros pastores da região sobre como fazer com animais tão agitados, e mesmo como fazer em geral pois ele tem a perfeita noção que ele é um mau tosquiador. Um ano pagou a um outro pastor para o ensinar e lhe tosquiar o rebanho, mas a coisa ficou-lhe muito cara e o que aprendeu nesse dia foi o suficiente para daí em diante cortar a lã a um nível suficiente, pelo menos para ele.

Mais uma cliente sentada e mais um cortar de toda uma lã num só cortar. Quando a barriga já estava cortada o Pastor, dizia e fazia quase sempre a mesma coisa, esfregava a barriga da ovelha e dizia: “Barriga boa!” A maior parte das ovelhas apreciava as festas, pois são muito amistosas e o Pastor é simpático para com elas, o que faz a diferença toda.

Olhou para o relógio e viu que a fome que sentia era bastante apropriada para a hora, já passava da uma, ou seja, já estava ali há 5 horas sem comer. Terminou de tosquiar a ovelha em mãos e colocou-a junto das carecas. Limpou o suor com o antebraço direito ainda de máquina de tosquia em mão. Pousou a máquina, vestiu a camisa que estava pendurada numa inchada ali perto e foi para o exterior.

Ao lado da porta estava uma cadeira com uma almofada e um saco feito de pele de cordeiro. As pernas eram as alças e o tórax e abdómen o saco propriamente dito. “Vamos lá ver o que a Leanna tem aqui para mim hoje… Uma sandes de carne estufada e uma bela garrafa de água.” O Pastor, principalmente ao almoço, alimentava-se maioritariamente de sandes dada a sua portabilidade e de lhe permitirem comer a caminhar sem dificuldade alguma. Adoro comer a andar! Mas hoje fico-me aqui sentado, estes dias de tosquia são sempre tão cansativos… Antes o meu cansaço era bem diferente, mais do género de quando tenho que ir a Inverness…

Sentado, a sentir-se afundar na fina almofada, já muito fina de tantos sentares, o Pastor usufruía da sandes com o pão ensopado no molho da carne bem saborosa, mesmo assim fria. Enquanto comia afagava o seu pipinho, satisfeito com a refeição. Pegou na garrafa, que estava a seu lado pousada no chão, e enquanto bebia mais ou menos meio litro de água de uma vez (Estava com sede!), chegou a Isla. Esta voou diretamente para o braço da cadeira, tão perto que o Pastor teve que se desviar um pouco. “Ei! Chega para aí, aqui é o meu lugar!” A ave esvoaçou para o chão: “Gaw!” Esta percebeu que não era bem-vinda tão perto da comida de Pastor… O senhor olhou para a Isla e disse, meio exasperado com a sua intromissão mas também pela sua reação brusca a esta: “Tens que entender o espaço pessoal, Isla! Mas também tenho que ter mais calma contigo, principalmente considerando que não tens um sítio para ti.” Meteu a mão no saco e logo de seguida ouviu-se o som de plástico a ser mexido; com este som a gralha começou a dar uns saltinhos no chão, sabia perfeitamente o que vinha aí. “Gaw! GAW!” O Pastor retirou do saco dentro do saco uns amendoins e atirou-os ao chão, para grande felicidade de Isla.

Depois de comer, decido a colmatar esta grande falha, o Pastor foi à sua pequena carpintaria e fez um poleiro de metro e meio de altura e 40 cm de largura. Espetou-o mesmo ao lado da sua cadeira junto da entrada do palheiro: “A-ssim.” Disse olhando para a gralha, que neste momento estava sobre as costas da cadeira “Assim já tens um lugar só para ti.” Olhou para dentro do palheiro: “Já me distraí o suficiente, Bardolph é a tua vez…!”

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Era para aviar uma prescrição de ópio, se faz favor.

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