Uma casa no telhado

O senhor Osvaldo caminha pela rua, com o seu sobretudo encharcado e o seu guarda-chuva a seu lado, a pingar grossas gotas. Chover já não chove, apenas chovem as gotas retardadas pelos edifícios e diferentes objetos da existência, mas no fim, toda a água será chovida e tocará o solo.

O alto senhor caminha paralelo aos edifícios e para num portão metálico, não mais que um retângulo metálico com 3 paralelepípedos verticais de metal; e uma fechadura, claro! Ele abre o portão, o portão de sua casa, e entra num corredor sem teto, entre dois prédios de 5 andares, paredes de tijolos de barro e sem janelas, para não haver mirones… Caminhados 10 metros encontram-se as escadas para a casa de Sr. Osvaldo, estas começam com um lance de escadas a direito que sobem até ao topo de um prédio de 3 andares do outro lado do quarteirão. A meio deste lance de escadas metálicas, com assustadores vazios para o olhar desabituado, passa-se sobre a piscina de um dos prédios. Enquanto Sr. Osvaldo namora, mais uma vez, a ideia de saltar dali para a água, passa junto à piscina uma senhora… Esta olha para o caminhante das escadas e chama-o: “Osvaldo! Não te esqueças que amanhã é dia 1!” O Sr. Osvaldo revira os olhos e inspira profundamente: Mais uma vez a relembrar-me do dia de pagar a renda, como se eu não tivesse pago as últimas 33 rendas exatamente no dia 1; certinho e direitinho como diria o meu tio Roberto. Enquanto pensava isto, dizia: “Não se preocupe Dona Precília, amanhã pago a renda.” Este «dizia» e o mais atrás «chama-o» são mais aproximadamente uns «gritou» e «berrou».

Chegado ao fim do primeiro lance de escadas, Sr. Osvaldo vira para a direita e desce 6 degraus para o teto do já referido edifício de 3 andares. Caminha até a ponta do prédio e sobe para o parapeito, que constitui o mais alto degrau da entrada de sua casa. Imediatamente a seguir está uma ponte metálica, novamente num formato de grelha metálica que assusta o vertiginoso medo de alguns, mas não de Sr. Osvaldo. Não só porque está habituado mas também porque nunca teve medo das alturas. A ponte vai de encontro a uma parede, aí estão umas escadas verticais que o nosso Sr. Osvaldo ascende neste momento. Felizmente não faz vento, com os degraus assim molhados poderia ser perigoso…

Já no topo deste prédio de 4 andares, vira à esquerda, desce umas escadas que descem 3 andares e depois viram para um pequeno passeio no topo de uma grande vivenda. O pequeno passeio, tal como todas as outras estruturas acopladas aos edifícios, é metálico, mais uma vez com uma grelha de barras metálicas que permite ver as telhas por baixo.

O passeio termina na casa de Sr. Osvaldo – um quarto de base quadrada que está sobre a enorme vivenda. O quadrado tem 4 m2 e é quase totalmente revestido de vidro, somente os cantos têm metal que sustenta o teto e os vidros. A porta também é de vidro, Sr. Osvaldo está neste momento a abri-la. De longe, quem vê a casa não diria que é quase exclusivamente revestida de vidro pois apenas vê um paralelepípedo negro, devido às pretas cortinas que Sr. Osvaldo tem em todo o redor da casa, não só para escuridão mas também para privacidade.

Entra, afasta a cortina da entrada e pousa as chaves numa taça à sua direita, sobre a secretária, minúscula mas suficiente. Fecha a porta e por um momento está na total escuridão, mas logo de seguida, a sua memória muscular e propriocepção não falham e clica no interruptor. Toda a casa se iluminou graças a 4 focos, 1 em cada canto superior. À esquerda está a cozinha, à frente a estante dos livros e sobre a porta uma televisão. No canto do fundo à esquerda a casa de banho, com um lavatório, sanita e uma cabine de duche que caso ele engorde terá que mudar de casa.

Faz uma omelete com alho francês salteado e um pouco de bacon, e no fim da refeição lava a loiça. De seguida, puxa uma alavanca que está no meio da casa e a cama/ sofá desce, troca-se para o pijama, sobe para a sua cama elevada graças a mais umas escadas metálicas e fica a ver televisão até adormecer.

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