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Contos em 30 minutos
Os contos deste blogue foram escritos em 30 ou menos minutos e será publicado um conto mensalmente no dia 1.
Os 30 minutos somente incluem a escrita do completo arco da história, os subsequentes ajustes, leituras, edições, reedições, acertos em detalhes da história que necessitaram de alguma pesquisa, e no caso de alguns contos, a congruência, não foram contados temporalmente e foram feitos após os referidos 30 minutos. Todas as subsequentes alterações não alteraram o mais alto e importante arco da história; assim os contos não violam este exercício de escrita - escrever um pequeno conto numa assentada.
A criadora deste conceito foi a minha amada namorada, ela lançou-me o desafio de iniciar e terminar uma história em 30 minutos, com o intuito de combater a minha inércia de escrever. Por tal desafio e mais, muito mais, lhe estou agradecido.
O Pastor: Uma Ida ao Cemitério (7)
Enquanto o Pastor cantava “Zum Geburtstag viel Glück” na Escócia, um carro estacionou junto do portão de um cemitério na Alemanha Oriental.
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A Ampulheta de Comprimidos
Malala passou pela porta da casa de banho e olhou para o interior. Depois de tomar o pequeno-almoço passou mais uma vez pela casa de banho e vislumbrou o seu interior. No quarto, inicialmente com o intuito de se vestir, parou e olhou em redor: Até que está arrumado… Ainda não tive tempo para o desarrumar. Finalmente o meu pai voltou para casa dele, estava farta de o aturar com todos os seus cuidados e simpatias ranhosas e forçadas. Depois de decidir que, mais uma vez, mais um dia, ia ficar de pijama o dia todo foi para a sala de estar. Claro, passando um pequeno olhar à casa de banho.
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O Pastor: O 50º Aniversário (6)
Embora não fosse a 1ª segunda-feira do mês, o Pastor vinha de Inverness depois de um dia de compras pois amanhã era um dia especial. Este vinha sem a sua capa, tinha um casaco de lã, um blazer e camisa, calças caqui e uns sapatos simples de sola de borracha. Caminhava pela estrada de terra batida com uma grande mochila nas suas costas; ao longe via-se o autocarro a seguir para as seguintes paragens, aliás para as paragens, o Pastor saiu onde começa este caminho, o que constituía nenhuma paragem específica.
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A macieira da mãe de Newton
Num dia solarengo de verão, em Woolsthorpe Manor, Inglaterra, nos meados da década de sessenta do século XVII desta nossa era, Isaac caminhava pela quinta de sua mãe e pensava sobre o mover dos astros, em números e letras, todos entrelaçados.
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O Pastor: Isla em sua demanda (5)
O Pastor andava nas suas andanças pelos campos e a gralha Isla esperava por ele. Estava sobre a cadeira que se encontrava no alpendre. Saltou/voou para a janela, aterrou mal e bateu contra o vidro. Encostou o bico no vidro e abriu-o, como que a tentar apanhar o vidro… Atacou o vidro com o bico, vezes e vezes sem conta! Passou uma hora nisto, nessa e nas outras janelas da casa! Estava claramente a tentar entrar mas sem sucesso. Passeava pelo teto, olhou em redor e voou para a árvore mais próxima, ia descansar de todo o fútil trabalho que tinha acabado de ter!
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Sessão de estudo noturna
Mohamed caminha junto à estrada. Dirige-se para o aeroporto de Conakry, está escuro em todo o seu redor, apenas as momentâneas iluminações dos automóveis trazem luz para esta noite de Lua nova. Na distância encontra-se a enorme bolha de luz que é o aeroporto, o destino final de Mohamed. Este jovem de 17 anos traz sobre o braço um monte de livros e o seu caderno. Com a outra mão come um pedaço de pão que trouxe de casa.
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O Pastor: Uma nova companheira (4)
O Pastor caminhava o seu caminho. O caminho não era seu, apenas era o caminho por ele delineado na hora, sem aparentes influências externas. A poucos metros atrás dele o seu rebanho seguia-o, aliás, seguiam o carneiro guiador – Bardolph – que andava na sua trela e coleira.
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Uma casa no telhado
O senhor Osvaldo caminha pela rua, com o seu sobretudo encharcado e o seu guarda-chuva a seu lado, a pingar grossas gotas. Chover já não chove, apenas chovem as gotas retardadas pelos edifícios e diferentes objetos da existência, mas no fim, toda a água será chovida e tocará o solo.
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O Pastor: Introspeção (3)
O Pastor encontrava-se sentado numa rocha, somente uma leve aragem o tocava suavemente. Estava embrulhado na sua enorme capa por isso o vento apenas o tocava na face. Estava junto ao oceano, de costas para a homogénea paisagem e de frente para os verdes da Escócia e para o rebanho de ovelhas, Bardolph ao fundo.
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O dia de alimentar o peixe
Um ruído enervante remove-me do livro. Estava numa parte deveras interessante… prestes a aprender a fazer um Souflé Andromediano…
Ah, é o alarme para alimentar o Marco!
Tenho que ir, não posso passar 70 anos sem o alimentar como da outra vez…
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O Pastor: O treino de Bardolph (2)
O Pastor estava a caminho de casa, por um trilho pouco usado, com a sua enorme quinta entre ele e toda a civilização. Andava por estas andanças pois queria ver como estava a sua cerca, não queria deixar andar as ovelhas e depois estas fugirem e perderem-se.
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Um pequeno quadro foi muito longe
Num enorme estúdio em Moscovo, 31 pintores pintam há mais de uma semana. A contagem já ultrapassa as 2 centenas de quadros. Lev pinta uma réplica do retrato do presidente num tamanho reduzido – 15 cm por 20 cm.
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Uma bela leitura interrompida
Joana lê na sua poltrona preferida, de pernas sobre os almofadados braços e livro sobre estas. Com a sua mão direita pega na página seguinte, numa ânsia de continuar a viajar a viajem do herói. A amarela luz do fim de tarde ilumina a sala e dá um aspeto mortal à cena.
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O Pastor - Prólogo (1)
Caminhava sobre a erva molhada: Ainda se vêm algumas gotas geladas de água sobre as folhas… Quem caminhava era um senhor de seus quarentas, vestido com umas vestes desfasadas da data. Estávamos em 1980, mas este senhor parecia saído de um filme da época medieval, as vestes eram ricas mas arcaicas e gastas. (…)

A subir e a descer pelo elevador
Uma alta mulher entra no prédio, está vestida em tons neutros, de alto a baixo. O único aspeto que realmente a realça após um olhar detalhado e demorado é a sua altura, de resto toda ela reside na mediocridade da ausência de características marcantes.
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O relojoeiro do relógio da Câmara Municipal
Umas voltas mais e o ponteiro dos minutos brilhará, lançando sobre toda a vila o esplendor do tempo. Ah! Como é bom ver o relógio em todo o seu esplendor. Vou descer para o ver devidamente.
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Corpos mortos! Corpi morti!
Um enorme barco chega da Crimeia, todas as pessoas e carga são colocadas em terra, com estas uns visitantes indesejados, e com estes a peste bubónica!
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O novo retrato
O líder do partido e Presidente da Rússia morreu. Em redor de seu morrer já temos os abutres políticos a sobrevoar o seu escritório. No meio destas lutas, muitas vezes nem faladas nem demonstradas, está Oleg, o pintor do retrato oficial do falecido Presidente Rozanov, e Nina, a mestre da logística por trás de todas as embaixadas da Federação Russa.
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De manhã também se bebe
Uma vitrina de garrafas, com um espelho por trás. Deve ser para os clientes se verem a si próprios. Terá havido algum estudo que indicava esta necessidade? Não creio…
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Alfredo na montanha
Um ancião caminha junto de um elevado precipício, usa seu bastão de carvalho, não por necessidade de suas pernas mas por necessidade da perceção alheia. Encontra-se sozinho neste solarengo dia. Não traz nada nem para comer nem para beber. Está a subir a montanha junto da queda mortal para o mar e sorri olhando, aliás, observando o que em seu redor se mostra.
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